Brasil brasileiro

O assunto da vez, pelo menos por enquanto, é o Rio 2016. A capital fluminense foi escolhida na semana passada como a cidade sede dos Jogos Olímpicos em 2016 – uma oportunidade inédita não só para o Brasil, mas para toda a América Latina. Toda esta festa me fez pensar e analisar um pouco mais o meu país.

No começo da década de 70, o Brasil crescia mais de 10% ao ano e era chamado de “o País do Futuro”. Quase 40 anos depois, cá estamos nós, com o antigo apelido em desuso, mas em um movimento parecido.

Atualmente somos a 9ª economia do mundo, temos a 9ª maior reserva de petróleo e não existe país com mais água em seu território do que o nosso; a maior biodiversidade do planeta está aqui, somos a 5ª maior população do mundo, o 5º maior território do globo e temos um litoral de mais de 7 mil quilômetros; temos uma das maiores cidades do mundo, empresas de peso mundial nos mais diversos segmentos – comunicação, alimentos, minérios, carne bovina e outros; condições climáticas que favorecem a diversidade da agricultura, somos um dos poucos países com domínio da energia nuclear, temos posição de liderança em nosso continente e, por fim, além de muitas não citadas, somos o país que mais venceu Copas do Mundo (não podia deixar de citar isto).

O Brasil ocupa posições altas em quase todos os rankings que se tem notícia. Mesmo nos defeitos. É a velha regra “os últimos serão os primeiros”. Basta pegar o ranking de impostos e inverter. O Brasil está no topo dos que mais pagam. E o mesmo se aplica para quase todos os problemas do Brasil. E é isso que torna Brasil o nosso Brasil.

 

Outro dia li um texto em um blog qualquer que não consigo me lembrar. O texto era de uma americana que vive no Brasil. Claro que o olhar dela é baseado na sua cultura, bastante diferente da nossa, mas ela apontava alguns pontos que podemos considerar universais. O que mais me chamou atenção no post era a complexidade e, ao mesmo tempo, simplicidade em descrever o país.

Bandeira do Brasil

Bandeira do Brasil

Ela dizia que o Brasil é a pátria dos opostos. Para ela, uma americana, palavras que jamais andam juntas, podiam servir de descrição. Quando você diz a um americano “honest” (honesto), automaticamente já se exclui a palavra “corrupt” (corrupto). Aqui no Brasil, segundo a autora, somos um país genuinamente honesto que sofre com corrupção. O texto todo aponta estes paradoxos. Não exatamente com estas palavras, mas “um país festivo, mas sofrido; cheio de riquezas, mas pobre; prático, mas burocrático…”

Vivemos num eterno paradoxo no qual unimos características que se excluem por natureza. Nós somos os paradoxos, nós somos do Brasil. E não mexa com a gente!

Uma propaganda recente da Havaianas tratava sobre esta outra caracterísitica nossa, também apontada pela autora do post que eu comentava. Um brasileiro, numa linda praia do nosso litoral, tomando água de coco e reclamando do país até que um argentino resolve entrar no assunto e concordar. O brasileiro então se dirige ao argentino e diz algo como: “Problema? Que problema?! O Brasil não tem problema, não!” Por alguma razão, nós, e somente nós, temos direito de criticar o Brasil. Qualquer apontamento feito por qualquer cidadão do mundo que não brasileiro não é válido e nos causa imensa insatisfação e, às vezes, ódio.

Somos patriotas, sim! Quando recebemos gringos e quando disputamos algum esporte, em específico a Copa do Mundo.

E por que só nestes casos? Talvez sejamos marketeiros natos. Sabemos o que pode e o que não pode vazar para o exterior, sabemos como manter a imagem boa. Afinal, somos festeiros, mas na festa jamais mostramos aos outros o quanto sofremos para estar ali comemorando o nada. Ou talvez saibamos cair na folia como ninguém justamente por sofrer tanto e saber dar valor a estes (talvez poucos) momentos de alegria.

A verdade é que o Brasil é outro. Mesmo eu, nascido nos anos 80, conheci um país diferente. Adoro esta fase que o Brasil vive. Adoro e temo – dois opostos, sou brasileiro. Torço para que finalmente tenhamos encontrado a escada para subir, subir e subir cada vez mais e finalmente nos tornarmos um dia, no presente, o “País do Futuro” idealizado no passado. Progresso, parece, já temos. Falta a Ordem.

Que venha uma década cheia de subidas. Pré-sal, Copa e Olimpíadas. E que esta década festiva dure por muitos e muitos anos, porque eu amo o Brasil.

PS: com esta onda de eventos esportivos nas terras tupiniquins, aos que ainda não sabem, aconselho que se esforcem e aprendam o hino da nossa Pátria amada, idolatrada e, acima de tudo, risonha e límpida.

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